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São paulo, Junho 2025 - Parte II

  • Writer: Rafe Barretto
    Rafe Barretto
  • Aug 2
  • 6 min read

Updated: Aug 19


Oficina G3, Fuji x100v (foto por: Rafael Belentani Barretto)
Oficina G3, Fuji x100v (foto por: Rafael Belentani Barretto)

O show do Oficina G3 em São Paulo foi o segundo grande evento que fotografei com a Fuji X100V, e já cheguei com outra cabeça. Depois da experiência intensa com o show do Rodolfo Abrantes em Piracicaba, essa seria minha chance de aplicar tudo que aprendi e testar a câmera num ambiente ainda mais desafiador. Já estava com as configurações na ponta dos dedos, mais solto, mais confiante.

Ah, e só um detalhe curioso: o show foi no Carioca Club, em São Paulo. Irônico, né? A gente tinha acabado de sair do Rio e foi parar num lugar com nome de casa carioca bem no coração da capital paulista.


Chegamos com duas horas de antecedência, prontos pra mapear o espaço, testar a luz e entender os ângulos possíveis. Mas a entrada não foi exatamente tranquila.

Logo na porta, fomos parados pela equipe de segurança por causa das mochilas e do equipamento. Explicamos que éramos os fotógrafos contratados e pedimos pra falar com alguém da produção. Apareceu a gerente do evento, mas inicialmente não tinha nosso nome na lista. Consultou prancheta, celular, ficou meio na dúvida. Ali vi como é complicado esse gerenciamento de turnê. Por mais que tudo esteja combinado, o projeto é vivo e tudo muda toda hora. Depois de certa insistência para entrar, já que a equipe é muito grande e muda de cidade pra cidade, tudo foi confirmado e conseguimos. Inclusive, palmas para o produtor com quem a Vivi estava em contato. Mesmo à distância, ele facilitou muito nossa entrada e permanência no evento. Vi que um bom líder se faz presente em qualquer lugar do mundo.


Estávamos dentro.


Com o backstage garantido, fomos direto guardar as mochilas e preparar os ânimos. Eu estava um pouco nervoso, mas a Vivi me acalmou. Ela sempre consegue.

No espaço, já tinham mais dois fotógrafos. Um deles foi contratado por alguém da banda, o outro parecia fazer parte da produção local. Vieram trocar ideia comigo, foram gente boa, puxaram papo, falaram dos equipamentos, compartilharam impressões sobre a luz da casa. Mas ali, no meio da conversa, percebi que a Vivi estava meio de lado. Ninguém puxava assunto com ela, ninguém incluía.

Não foi por maldade, nem por arrogância deles. Mas o que ficou claro ali é o quanto o audiovisual ainda é um espaço dominado por homens, onde muitas vezes as mulheres são subestimadas ou invisibilizadas. E isso é estrutural, não pontual. A Vivi que tinha conseguido o trampo, ela que estava liderando o rolê, mas por estar comigo, foi tratada como se estivesse me acompanhando, e não trabalhando. Depois falei com ela sobre isso e repeti o que sempre penso: o trabalho dela fala mais alto. Sempre vai falar.


O espaço reservado pra gente era bem em frente ao palco, com pouco mais de um metro entre o gradil e a estrutura da banda. De um lado, caixas de som. Do outro, mais caixas. Um verdadeiro corredor de pressão sonora. Era um lugar apertado, mas perfeito pra capturar o show com intensidade.

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A abertura da noite ficou por conta do Fruto Sagrado, uma banda das antigas. Eu, pra ser sincero, não conhecia. Mas o som me surpreendeu. Pesado e sagrado. Interessante ver como o metal gospel carrega força e propósito ao mesmo tempo. É um estilo que muita gente acha que não se mistura, mas ali, ao vivo, fez todo sentido.

Durante esse primeiro show, comecei a brincar com um filtro novo que tinha comprado mais cedo naquele mesmo dia na Galeria 7 de Abril, um filtro de prisma. As distorções que ele criava eram imprevisíveis, mas em certos momentos encaixavam perfeitamente com a iluminação e a atmosfera da banda. Rendeu uns cliques bem maneiros, meio psicodélicos, quase etéreos.




Já tendo um show nas costas, eu sabia exatamente como configurar a câmera. No show do Rodolfo, eu quebrei a cabeça com os controles da Fuji até encontrar o fluxo ideal: deixei o ISO no modo C para controlar com o dial frontal, a velocidade do obturador no modo T para ajustar com o dial traseiro, e o diafragma fixo em f/2.8. Essa combinação me deu agilidade, e com ela gravada na memória, entrei no Carioca Club já a mil.


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A Vivi me chamou pra ir com ela lá pra frente do palco, mas eu recuei. Tive uma ideia. Queria tentar uma foto deles saindo dos bastidores e indo em direção ao palco, bem estilo Jim Marshall. Esse foi o cara que mais me inspirou pra esse evento. Antes mesmo de sairmos do Rio, a Vivi e eu assistimos juntos o documentário Show Me the Picture, sobre a vida dele. As imagens que ele fez ficaram martelando na minha cabeça por dias. Eu sabia o tipo de registro que queria.

Queria drama, presença, tensão. Preto e branco, 100%. Em tese, fotografei aproximadamente 90% do show do Oficina em PB. As cores não estavam me chamando naquele dia. Fiz alguns cliques coloridos que ficaram animais, mas os PB... cara, que onda.


Usei a emulação de filme PB mais contrastada que eu tinha salva na Fuji. Pretos completamente pretos, brancos no limite de estourar, e os cinzas com aquele soco seco no meio do estômago. Era isso que eu queria: fotografia de verdade. Sem firula.



Durante o show, em meio ao caos controlado das luzes, do som e do público, tirei um tempo pra registrar algo que pra mim era ainda mais valioso: a Vivi, fotografando. Eu estava ali com a missão de capturar uma das maiores bandas do gospel nacional, mas ver ela trabalhando no habitat natural dela... aquilo me prendeu. Ela estava totalmente entregue, focada, tranquila. Já era o terceiro show dela, e ali, naquele momento, me senti inspirado.

Tirei algumas fotos dela fotografando, tentando transmitir exatamente o que eu vejo quando olho pra ela nesses momentos. Não era só sobre a técnica, nem sobre o equipamento. Era sobre presença. Sobre paixão. E acho que consegui capturar isso.



Comparando com o show do Rodolfo, essa noite foi um salto. No primeiro, eu me sentia como quem sobe numa bicicleta com rodinhas, com os pais segurando atrás, indo devagar. No show do Oficina, eu já estava andando sozinho. Talvez ainda um pouco desequilibrado em alguns momentos, mas com confiança o suficiente pra não parar. Já conhecia o ritmo, já entendia o espaço, já sentia a música no corpo e nos dedos. Já era parte da engrenagem.

Faltando duas ou três músicas pro fim do show, dei um passo pra fora do calor da pista e voltei pro camarim. O som ainda estremecia o chão, mas ali dentro tudo parecia em câmera lenta. Abri minha mochila, tirei a Canon Selphy e comecei o processo.

Coloquei o cartão de memória, escolhi duas ou três fotos de cada integrante da banda, os cliques que mais captaram o espírito da apresentação, e comecei a imprimir. Um por um, ali mesmo, direto da câmera para o papel.


A reação deles quando receberam foi impagável. Aquela cara de como assim fotos impressas? seguida de mas já?


Mesmo com toda a velocidade da fotografia digital hoje, a maioria dos fotógrafos ainda entrega os arquivos dias depois, entre 3 e 10 dias, dependendo do evento. E com razão, já que editar dezenas ou centenas de fotos é um processo demorado. Só que ali, com as configurações certas, fotografando em JPEG direto com as minhas receitas de filme, as imagens já saíam prontas da câmera. Sem pós. Sem filtro. E mais: em papel.


Não era só uma lembrança. Era uma prova concreta de um momento que tinha acabado de acontecer. E os caras ficaram doidos.


Depois do show, com a adrenalina ainda no corpo e o coração cheio, voltamos pra casa. Jantamos algo rápido, trocamos umas ideias sobre como foi tudo, rimos das coisas que deram certo e das que deram errado. E então apagamos. O corpo pedia descanso, e a cabeça, silêncio.


No dia seguinte, voltamos pra Macaé. E como a gente não sabe ficar parado por muito tempo, já começamos a planejar a próxima viagem. Um destino completamente diferente: o interior do Rio de Janeiro. Uma cidade tão pequena que parece esquecida no tempo, chamada Boa Sorte. Cidade natal da esposa de um dos meus melhores amigos.


Mas essa... é outra história.

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